Fevereiro 2019 vol. 1 num. 5 - I Simpósio Bienal SBPSP – O Mesmo, O Outro

Oficina - Open Access.

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Comentários. Um sonho desconcertante

Comentários. Um sonho desconcertante

ROZENBERG, Marlene ;

Oficina:

Temos dois textos complexos, profundos e desconcertantes. Lendo os dois textos fui percebendo que há pontos em comum, com usos de modelos diferentes. Usando o texto de Mariano para entender meu desconcerto diante da tarefa, penso que passei pelas três formas de escuta a que ele se refere: enigma, mistério e desconcerto. A primeira sensação é que tinha enigmas para decifrar. Tanto que depois de ler, tive um sonho: andava pela Av. Paulista e recebi um bilhete de uma pessoa que me dizia: se você não decifrar, você vai ser vítima do que o enigma propõe. Estava diante da esfinge como Édipo. No assalto do sonho, a angústia era enorme, e não achava a resposta. Estava diante do desafio de uma decifração. Quando acordei, relacionei a minha responsabilidade de comentadora dos dois textos, de dois colegas que aprecio muito. E vi que a decifração seria eu mesma escrevendo e me apresentando. O sonho me desconcertou, mas me possibilitou pensar. Será que os sonhos são sempre desconcertantes? Em sua maioria nos surpreendem. Neste estado de surpresa me debrucei nos textos para poder sonhá-los e fui tentando, sob a forma de detetive de mistérios, ler nas entrelinhas e me envolver no conteúdo, feito um meteco (estrangeiro), me misturando, mas, ao mesmo tempo, me alheando para poder ouvir melhor os autores. Ser contemporânea, como foi definido, aderindo e me diferenciando. E fui me identificando, como analista e como leitora, assim podendo me transformar num detetive selvagem de ambos os textos, ou seja, me manter em estado de desconcerto fértil e criativo a partir das surpresas que fui vivenciando. Travessia, movimento, cesura. Penso que a criatividade tem sempre um fator de surpresa e espanto implicados. Criar é romper e a primeira sensação é de um espaço vazio e espera ativa para que surja uma nova composição. Para Winnicott (1971/1975), a criatividade é fundamento para o surgimento da subjetividade que depende da hospitalidade do outro para dar lugar à sua singularidade. Destaca a importância do ambiente externo para se criar o espaço potencial. Sem este a singularidade do indivíduo não ganha morada. Seria esse espaço potencialmente desconcertante? O processo de ilusão encobre este desconcerto? E a vida cultural uma maneira de lidar com este desconcerto? Podemos pensar aqui o desconcerto como vivências de rupturas, desilusões, que podem gerar crescimento ou paralisias. A vida cultural e a possibilidade do uso de símbolos caracterizam o ser humano. Simbolizar é integrar e a vivência de integração também pode desconcertar.

Oficina:

Temos dois textos complexos, profundos e desconcertantes. Lendo os dois textos fui percebendo que há pontos em comum, com usos de modelos diferentes. Usando o texto de Mariano para entender meu desconcerto diante da tarefa, penso que passei pelas três formas de escuta a que ele se refere: enigma, mistério e desconcerto. A primeira sensação é que tinha enigmas para decifrar. Tanto que depois de ler, tive um sonho: andava pela Av. Paulista e recebi um bilhete de uma pessoa que me dizia: se você não decifrar, você vai ser vítima do que o enigma propõe. Estava diante da esfinge como Édipo. No assalto do sonho, a angústia era enorme, e não achava a resposta. Estava diante do desafio de uma decifração. Quando acordei, relacionei a minha responsabilidade de comentadora dos dois textos, de dois colegas que aprecio muito. E vi que a decifração seria eu mesma escrevendo e me apresentando. O sonho me desconcertou, mas me possibilitou pensar. Será que os sonhos são sempre desconcertantes? Em sua maioria nos surpreendem. Neste estado de surpresa me debrucei nos textos para poder sonhá-los e fui tentando, sob a forma de detetive de mistérios, ler nas entrelinhas e me envolver no conteúdo, feito um meteco (estrangeiro), me misturando, mas, ao mesmo tempo, me alheando para poder ouvir melhor os autores. Ser contemporânea, como foi definido, aderindo e me diferenciando. E fui me identificando, como analista e como leitora, assim podendo me transformar num detetive selvagem de ambos os textos, ou seja, me manter em estado de desconcerto fértil e criativo a partir das surpresas que fui vivenciando. Travessia, movimento, cesura. Penso que a criatividade tem sempre um fator de surpresa e espanto implicados. Criar é romper e a primeira sensação é de um espaço vazio e espera ativa para que surja uma nova composição. Para Winnicott (1971/1975), a criatividade é fundamento para o surgimento da subjetividade que depende da hospitalidade do outro para dar lugar à sua singularidade. Destaca a importância do ambiente externo para se criar o espaço potencial. Sem este a singularidade do indivíduo não ganha morada. Seria esse espaço potencialmente desconcertante? O processo de ilusão encobre este desconcerto? E a vida cultural uma maneira de lidar com este desconcerto? Podemos pensar aqui o desconcerto como vivências de rupturas, desilusões, que podem gerar crescimento ou paralisias. A vida cultural e a possibilidade do uso de símbolos caracterizam o ser humano. Simbolizar é integrar e a vivência de integração também pode desconcertar.

Palavras-chave: -,

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DOI: 10.5151/isbsbpsp-10

Referências bibliográficas
  • [1] Agamben, G.(2008).- Che cos”è il contemporâneo? Nottetempo
  • [2] Bolaño, R. (2006). Os detetives selvagens. S.Paulo: Companhia das Letras
  • [3] Floridi, Luciano (2017). La quarta rivoluzione. Raffaello Cortina Editore. Milano Winnicott, D. W. (1971/1975). O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago
  • [4] Winnicott, D. W. (1974/2005). O medo do colapso. In Explorações psicanalíticas. Porto Alegre: Artmed.
  • [5] Moguillansky(2004) Nostalgia del absoluto, extrañeza y perplejidad; Buenos Aires: ed. Libros del Zorzal
Como citar:

ROZENBERG, Marlene; "Comentários. Um sonho desconcertante", p. 58-66 . In: I Simpósio Bienal SBPSP – O Mesmo, O Outro. São Paulo: Blucher, 2019.
ISSN 2359-2990, DOI 10.5151/isbsbpsp-10

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