Fevereiro 2019 vol. 1 num. 5 - I Simpósio Bienal SBPSP – O Mesmo, O Outro

Plenária - Open Access.

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A propósito de desconcertos e travessias

A propósito de desconcertos e travessias

GIOVANNETTI, Marcio de F. ;

Plenária:

Não há língua viva que não sofra, ao longo de sua existência e consequentemente de seu uso, deslocamentos e deslizamentos semânticos, de significado. Exemplar neste sentido é a palavra concerto e, portanto, desconcerto, sua derivada. Derivando da palavra latina CERTARE que significa disputar, desunir ela foi, ao longo dos séculos, adquirindo exatamente o sentido contrário, isto é, com harmonia. Daí seu deslizamento, no século XVII e que perdura até hoje para o sentido de uma harmonização de vários instrumentos musicais: um concerto musical é exatamente o contrário de uma desunião. Portanto, foi necessário a introdução do prefixo DES- desconcerto- para a língua portuguesa recuperar o sentido original de concerto. Se nós, psicanalistas, estamos sempre às voltas com a língua viva, a nossa e a de nossos pacientes, não há forma de manter o espírito original da psicanálise, aquele que rompe com a ordem estabelecida, se não às custas de um estado de desconcerto constante em nossa clínica. Falar, portanto, do analista desconcertado é falar e pensar o analista em seu trabalho diário às voltas com a escuta da palavra- ou como escreveu Green- com o discurso vivo de cada um de seus pacientes. O que implica estar atento às cesuras e aos deslizamentos que inevitavelmente ocorrem no interior mesmo de cada fala no momento histórico específico de sua enunciação. Cada palavra é, ao mesmo tempo, a palavra nova e a palavra antiga, aquela que foi articulada num momento outro, pretérito, daquele que fala.

Plenária:

Não há língua viva que não sofra, ao longo de sua existência e consequentemente de seu uso, deslocamentos e deslizamentos semânticos, de significado. Exemplar neste sentido é a palavra concerto e, portanto, desconcerto, sua derivada. Derivando da palavra latina CERTARE que significa disputar, desunir ela foi, ao longo dos séculos, adquirindo exatamente o sentido contrário, isto é, com harmonia. Daí seu deslizamento, no século XVII e que perdura até hoje para o sentido de uma harmonização de vários instrumentos musicais: um concerto musical é exatamente o contrário de uma desunião. Portanto, foi necessário a introdução do prefixo DES- desconcerto- para a língua portuguesa recuperar o sentido original de concerto. Se nós, psicanalistas, estamos sempre às voltas com a língua viva, a nossa e a de nossos pacientes, não há forma de manter o espírito original da psicanálise, aquele que rompe com a ordem estabelecida, se não às custas de um estado de desconcerto constante em nossa clínica. Falar, portanto, do analista desconcertado é falar e pensar o analista em seu trabalho diário às voltas com a escuta da palavra- ou como escreveu Green- com o discurso vivo de cada um de seus pacientes. O que implica estar atento às cesuras e aos deslizamentos que inevitavelmente ocorrem no interior mesmo de cada fala no momento histórico específico de sua enunciação. Cada palavra é, ao mesmo tempo, a palavra nova e a palavra antiga, aquela que foi articulada num momento outro, pretérito, daquele que fala.

Palavras-chave: -,

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DOI: 10.5151/isbsbpsp-04

Referências bibliográficas
  • [1] -
Como citar:

GIOVANNETTI, Marcio de F.; "A propósito de desconcertos e travessias", p. 24-31 . In: I Simpósio Bienal SBPSP – O Mesmo, O Outro. São Paulo: Blucher, 2019.
ISSN 2359-2990, DOI 10.5151/isbsbpsp-04

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