Janeiro 2016 vol. 2 num. 2 - IX Encontro Nacional sobre Migrações

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Imigração haitiana no estado de Santa Catarina: fases do fluxo e contradições da inserção laboral

Magalhães, Luís Felipe Aires ; Baeninger, Rosana ;

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A emigração haitiana não é um processo novo (CASTOR, 1978; COTINGUIBA, 2014): iniciada ainda no final do século XIX, quando se dirige especialmente a Cuba e República Dominicana, ela se orienta, já na segunda metade do século XX, a países como Estados Unidos, Canadá e França. Estes processos históricos de emigração internacional possuem particularidades, não apenas quanto às razões da migração como também no que se refere aos fluxos e suas principais características. No entanto, a emigração haitiana passa, atualmente, por uma transformação: a crise capitalista pós-2008 (MAGALHÃES e BAENINGER, 2014) repercutiu diretamente nos níveis de emprego, salário e poupança, em países constituídos como destinos tradicionais da emigração haitiana (França e Estados Unidos, especialmente), o que trouxe duas consequências importantes. A primeira, o fortalecimento do sentimento e da prática xenófobos, em razão das restrições no mercado de trabalho e a apropriação disto por setores conservadores, intensificando com isto a seletividade migratória nestes países (MAGALHÃES e BAENINGER, 2014). A segunda, também decorrente destas restrições no mercado de trabalho, foi a diminuição do nível de remessas de migrantes, o que provocou rápido contágio da crise em países dependentes de remessas, como o Haiti (CEPAL, 2009). Diante destas dificuldades (econômicas, políticas e sociais), a migração haitiana teve de reorientar-se, ou seja, encontrar novos países de destinos (FERNANDES, MILESI e FARIAS, 2011). Neste momento, o Brasil passava por um ciclo expansivo em sua economia, implementando medidas anticíclicas de promoção do consumo e de construção de obras públicas – inclusive para a realização de grandes eventos internacionais, como a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. De igual modo, o Brasil estava presente também no Haiti, seja militarmente, coordenando a Missão da ONU para Estabilização da Paz no país (LUCE, 2011; PATARRA, 2012), seja economicamente, através de um sem-número de empreiteiras operando inicialmente a construção de estradas e portos e, após o Terremoto de Janeiro de 2010, a reconstrução do país (SEGUY, 2014). Estes fatores inseriram o Brasil no rol dos destinos da emigração haitiana, ainda no final do ano de 2010 (MAGALHÃES e BAENINGER, 2014). O entendimento da presença haitiana no Brasil exige um conjunto de esforços teóricos e metodológicos. No que concerne aos esforços teóricos, há de se considerar que a emigração haitiana é um processo histórico de longa duração, que envolve desde o final do século XIX um conjunto de países, sob diversas condições sociais e políticas vigentes no Haiti (CASTOR, 1978). Explicações como a de uma migração originada por conta exclusiva do terremoto devem ser, portanto, questionadas (SEGUY, 2014; COTINGUIBA, 2014). De igual modo, a presença haitiana no Brasil requer, metodologicamente, utilização de outras fontes de dados (FERNANDES, 2014), visto que o último Censo Demográfico brasileiro deu-se antes da chegada massiva destes imigrantes. Registros como o do Ministério das Relações Exteriores (MRE), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) além das informações, qualitativas e quantitativas, de pesquisas nacionais existentes sobre o tema devem ser, portanto, utilizados.

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DOI: 10.5151/socsci-ix-enm-ST4-4

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Como citar:

Magalhães, Luís Felipe Aires; Baeninger, Rosana; "Imigração haitiana no estado de Santa Catarina: fases do fluxo e contradições da inserção laboral", p. 219-237 . In: Anais do IX Encontro Nacional Sobre Migrações - IX GT Migração [=Blucher Social Science Proceedings, v.2, n.2].. São Paulo: Blucher, 2016.
ISSN 2359-2990, DOI 10.5151/socsci-ix-enm-ST4-4

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